segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Vestida Para Matar (1980) - Brian De Palma



De Palma absolutamente dominou os anos 80 - talvez não em aspectos comerciais, já que fora essa a época de ascensão de cineastas como Spielberg, Zemeckis e Ivan Reitman -, mas a afirmação supracitada refere-se aos tais filmes em pauta: "Um Tiro na Noite", "Scarface", "Dublê de Corpo", "Os Intocáveis"... e o ponto no qual essa observação fora colocada é uma alusão as afirmações convictas que alguns desses filmes são deveras apontados como: "cópia de Hitchcock", "plágio de premissas Hitchcockianas" e por ai vai, sendo que pessoalmente considero isso um absurdo, nada mais considero seus filmes - apesar de sim, haverem cacoetes de Hitchcock -, homenagens mais que bem feitas - quase não devendo nada aos filmes de seu maior inspirador -, além do mais, seus filmes tem claramente ecos de estilo do cinema de De Palma, estão lá em sua filmografia suas marcas e caracteristicas, cinema de caráter autoral único - e cai entre nós, inconfundivel; logo, mesmo que brevemente alguns filmes de De Palma possam soar como rarefações de Hitchcock, são filmes do senhor Brian De Palma, inconteste, o próprio.

"Vestida Para Matar" é influenciado claramente por "Psicose (1960)", não há porque negar - ou como -, embora o argumento iniciar possa parecer um tanto diferente, ao decorrer da trama - desde o inicio até as resoluções -, as influencias de Psicose são cada vez mais constantes e latentes. Tudo desenrola-se à partir da seguinte sinopse: o Dr Robert Elliot (Michael Caine, na minha opinião não especialmente sensacional, embora não pareça necessário tamanhos esforços em sua atuação, sendo que em aspectos aparentes, o personagem o cai como uma luva), se vê diante de uma terrível situação: um psicopata anônimo começa a matar mulheres proximas a ele, e usando como instrumento, uma navalha roubada de seu consultório. 

O que pode caracterizar possívelmente Vestida Para Matar como plagio de Psicose é seu enredo - nunca, nunca mesmo, a estética. Ambos enredos se assemelham (intencionalmente ou não, isso não realmente importa) pois ambos os filmes envolvem serial-killers, troca de protagonistas, sensualidade e clima de tensão.

Em contrapartida, a estética destas obras são totalmente distintas - na qual podemos julga-las obras de assinaturas patentes. Enquanto no filme de De Palma, o mesmo opta por mais tomadas exteriores, cores fortes (sim, Psicose fora filmado em preto e branco, devido a censura, mas consequentemente isso o distingue deste aqui), trilha sonora deveras mais amena e ritmo mais acelerado, Psicose tem ritmo mais dedicado ao desenvolvimento de personagens, trilha sonora mais marcante e robusta (mais conhecida idem), passa-se mais tempo filmado em estúdio. 

Certamente, um filme não diminui o outro. Vestida Para Matar é tenso, surpreendente, sensual (haja vista Psicose novamente) e mesmo nos dias de hoje pode ser visto com apreço até maior do que na época que fora lançado; é um deleite só, filme que qualquer amante do suspense ira adora, aliás, basta para aqueles que amam Cinema.

Nota: 8,0







































domingo, 19 de fevereiro de 2012

O Chicote e o Corpo (1963) - Mario Bava




Obra-prima. Pra começar a escrever sobre o filme de Bava, deve-se ter certeza que trata-se de um filmaço. Completissímo - eficiente em todas as vertentes de sua proposta, transita de lá aos sensoriais e aos psicológicos da coisa; que é preciso estudo de personagens, e tem o mais atmosférico cenário possível, assim ambos elementos se complementam, em prol do Cinema que remete-se aos das sensações. No fim das contas quem ganha somos nós.

Se passa no século XIX - em um castelo de aura soturna e sinistra como palco (em um território não especificado), essencial para dar espaço estética que Bava queria -, no qual um membro da familia - que lá reside -, filho do agredado volta ao lar e passa a aterrorizar os mesmos, até que em certa noite é encontrado assassinado no próprio castelo, mas no melhor estilo fantasmagórico, seu espirito (?) passa a fazer aparições diante dos seus relacionados.

O filme de Bava é extraordinário; a essencia é deveras superior ao que possa se considerar um simples 'whodunit', mas sim, um sensorial jogo psicológico, do tipo vampiresco da mente e psique, que perpassa os limites apenas da narrativa (ainda que interessante), a diegese (como roteiro e escrita) é peixe pequeno perto das maravilhas que a manipulação da imagem e sonoplastia podem transmitir - especialmente aqui; filme das nuances audio-visuais, tão estimadas - trilha sonora apuradissíma, iluminação com luzes coloridas -, até os mais primários artificios que o genêro permite - ruídos do vento (uso constante), câmera subjetiva.

* Maravilhosamente exclui o mais rasteiro trejeito do genêro: sustos faceis.

Brincadeira séria - em algum momento, realmente me passou pela cabeça os desenhos de Scooby-Doo (palco labirintico e de fantasmas) -, ao que soa, o filme de Bava pode ser experimental (vide Rabid Dogs). E é curioso observar que o pano de fundo do filme é primeiramente um conto de rixas familiares - e veio me na cabeça por um instante, Gosford Park (Altman) e como percebi como aquele realmente parecia uma insossa brincadeira de criança.

Como não poderia deixar de ser, aqui os personagens são essenciais - e felizmente também são magistralmente interpretados  -, o personagem chave da pelicula certamente é o "fantasma" Christian Menliff - no qual Tony Kendall caira como uma luva (expressão fria, semblante pálido).

Infelizmente pouquissímo visto, senti-me na necessidade de escrever sobre essa obra-prima. Divertissímo e surpreendente; a sensação após o fim do filme foi de satisfação plena, a que sempre desejo sentir como cinéfilo irrepreensível que sou.

Nota 9,0

















sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A Árvore Da Vida (Terrence Malick) - 2011



Não gostei de "A Árvore da Vida" quando o vi pela primeira vez; fóruns e discussões a fora nunca escondi esse sentimento, e fui deveras metralhado por muitos (não estou defendendo ou atacando os mesmos, apenas relatando) por ser detrator ferrenho do filme, alguns meses depois decidi que iria vê-lo com mais carinho, e assim o fiz momentos à pouco, dediquei-me a assistir a obra novamente, ainda para mim, a obra de Malick ainda segue com seus altos e baixos.

Tree of Life é pretensioso, mas vejo sinceridade - ainda que ambas as virtudes não acrescentam ou diminuem o filme necessariamente, logo a afirmação anterior só consta como observação; mais que tudo, o filme de Malick é um filme de muitos devaneios e questionamentos - cujo alguns parecem relevantes, alguns nem tanto -, como conclusão final acredito que trata-se de um filme ontológico - antes de tudo, um questionamento na vida e do ser, e como a natureza (aqui materializada, como comentarei) o afeta; curiosamente isso levanta um paradoxo interessantissímo: se a tese estiver certa, logo as respostas de Tree of Life são os questionamentos em si - isso tudo são nada mais que teorias.

O gigantesco arco dramático da fita tem como alicerce a estória de uma familia americana (no caso, época/localização não realmente importam, embora pareça que o filme se passa relativamente em tempos não muito distantes, talvez anos 50/60, julgando pelo mundo apresentado nos momentos em que a narrativa se vira ao personagem Jack já adulto, um mundo moderno), familia essa com seus "momentos" e "problemas" - no filme, representada pelas incorporações espirituais de natureza e graça, respectivamente a mãe (graça, por Jessica Chastain) e o pai e agregado (natureza, por Brad Pitt).

A ocorrência que dá inicio ao insight espiritual dos personagens - consequencia natural e inconsequente dos mesmos após morte -, e do filme no qual acompanhamos - a odisséia pelo universo (origem, fim) -, é a morte de um dos irmãos dessa familia - em um tempo não determinado -, á partir disso toda a metafisíca levantada (principio fundamental da filosofia) é conseqüencia da morte: quem diria que depois da morte (ao menos do corpo e espirito na Terra que conhecemos), que nos traria à epifânia do coração/mente/corpo nos faria questionar a vida?.

O questionamento da existência de Deus (quem mais questionar ou talvez culpar a morte? Deus e a si mesmo) é o que toma conta do primeiro ato (principalmente aqui, mas durante o filme todo à questão é dada seu lugar) da obra - pela mais irritante e natimorta narração em off ever, culpado quase unânime pelo tom deprimente e predominante que o filme pode tomar para alguns espectadores (afastando muito o filme do publico mais impaciente e casual), com certeza deve-se ao tom sorrateiro e enlouquecidamente chato que Malick (culpado por orientar mal os atores nessa questão), decide por deixar em aúdio constante na tela; voltando ao ponto, embora a narração pode adormecer-nos, ela é essencial e é virtude grandiosa no filme pois a mesma não é exclamada por um só personagem, então todos eles (bom, quase todos) expressam-se livremente - independente do jeito que for - livremente dependendo de para quem os focos do filme se desviam.

Tais questionamentos são clarissímos declarados à duvida da existencia de Deus; principalmente pela mãe e Sra. O'Brien, dona das seguintes exclamações e perguntas como: "Eu servi vosso fiel", "Onde o senhor estava?"; mas ela não é a única, Jack também fala (ainda criança): "Porque deveria eu ser bom, se o Senhor..." parecendo assustado em concluir o questionamente em questão... e também adulto (desorientado e abaladissímo pela morte de seu irmão, que morrera com 19 anos), a câmera de Malick parece indicar que Jack ainda questiona os céus, sendo que subjetivamente a câmera aponta constantemente até lá.

Depois de tudo isso, o filme joga abruptamente à platéia a origem do universo (a parte mais interessante do filme, de longe, parte essa, téorica, é claro), levantando talvez minha maior dúvida sobre o filme (talvez gafe gravissíma de Malick e do filme,): porque seus personagens e quase que objetivo principal do filme questionam à Deus os acontecimentos da vida, se por indicação do diretor/filme, a explicação que ele presta para a criação e origem do universo fora cientifíca? - está tudo lá: a colisão entre os embriões, a explosão que gerou tudo ali.

O interessante é que logo após acompanharmos o Big Bang que criara o universo, parte-se logo para a vida pronta na Terra - o corte em questão à principio foca-se a àgua primeiramente (por ótica submersa mesmo) e segundos depois, para a superficie, na qual vemos a  tão comentada cena do dinossauro (que na minha opinião é uma cena quase risível, totalmente desnecessária, uma cena de significados isolados, totalmente à parte do conceito da obra, soa pouco sincero e muito bobo), cena essa em que um dinossauro caminha pela natureza e vê outro dinossauro - morimbundo, deitado inofensivamente atrás de uma pedra -, a intuição primitiva de carne fácil parece vir a cabeça em primeiro lugar, então o dinossauro (o mesmo que caminhava)  o mata brutalmente, e logo ao vê-lo sofrendo pelo golpe sofrido, não o consome, e em seguida abandona abandona o lugar (?!).

Após essa derrapada, Tree of Life relata de forma linda (tempos esses, bem antes da morte do irmão supracitada, pulando agora no começo desta familia), o nascimento do primeiro filho (Jack); pra mim essa sequencia se segura fácilmente como a mais bonita e emblemática do filme, na qual fotografa o efeito da criação da vida de um filho, tempos de felicidade extrema - momentos esses filmados com auxilio mais que eficiente da fotografia de Emmanuel Lubezki e da trilha sonora incidental graciosissíma.

Jack é a representação da árvore da vida. O filme é o relato de seu crescimento e amadurecimento - suas primeiras emoções da vida (desde as essenciais primeiras experiencias e os posteriores sentimentos que sente como ser humano): são elas (que valem-se destacar), o ciume que sente de seu irmão quando bebê, a primeira paixonite na escola (já pré-adolescente), a repreensão de seu pai (natureza) e etc.

Os conflitos do filme se baseiam na relação pai-filho entre Sr. O'Brien e Jack, que se sente repreendido e passa à desprezar o pai (por pura falta de compreensão e ignorância na verdade, ainda que seja uma reação natural, é pura leviandade, não sabes que seu pai só quer o proteger e lhe ensinar), e certamente essa é a parte mais mal conduzida e aborrecida do filme, e redundante; após a viagem do pai à negocios, Jack (ainda furioso), passa a se comportar ainda mais rebeldemente, inclusive chegando a machucar seu irmão por pura diversão - a mensagem que o ato passa é mais que clara -, após se arrepender e ser perdoado por seu irmão, volta a se acertar com seu pai - após o mesmo retornar de sua viagem -, mas o filme parece destruir a própria proposta e a mensagem com a afirmação incompreensível por Jack: "Agora sei, me pareço bem mais com você (pai, natureza) do que com ela (mãe, graça), sou tão mau quanto você". Afirmação essa que parece questionar a presença natural (e necessária) da natureza.

Voltando à Jack adulto (por Sean Penn) - não deixando esquecer enquanto caminha destrambelhado, que sua consciencia parece estar num lugar distante, seguindo à si mesmo quando garoto -, os minutos finais do filme tratam-se de uma sequencia quase onírica (já comentada), na qual, nesse "segundo-plano", se situa em um lugar deserto (parecendo um deserto de aguas rasas), Jack está com na presença agora de todos os seus entes queridos (agora já reconciliados); seria esse o fim dos tempos? (como a narração em off em um ponto indica), será que no fim das contas tudo que A Árvore Da Vida quer dizer é que devemos amar e sermos bons? Simples assim?

"A única forma de ser feliz é amando, se não, a vida passa como um flash"

Parece que sim (e talvez não precisa-se ir tão longe para isso, e escorar milhões de temas como o filme faz, fazer o que...). De qualquer forma, o filme mesmo com seus excessos - o que torna perigoso tornar muito de tudo dispensável -, a obra está longe de ser anemica ou vazia.

* Só para não esquecer, a sequencia onirica supracitada é embalada por tomadas curiosas: em uma delas, uma porta é aberta, mas tudo que vemos é agua (alegoria clara à vida, o incentivo para seguir em frente após a morte), e outra na qual um dos meninos (um dos irmãos) está em um quarto escuro e com uma lanterna - e sua mão tampando a luz -, e depois o mesmo tira sua mão, e ilumina seu rosto (soando como alegoria à apoteótica epifânia que Jack tem nessa sequencia).

Nota: 6,0
























































































terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Cinzas do Paraiso (1978) - Terrence Malick



Cinzas do Paraiso é uma prosa incomum, é uma estória que estima tudo aquilo que toma espaço na tela, mas a mesma é simplória, na mão de Malick ganha certas nuances, não perfumaria - é oprimido/enrustido, poético e sentido -, todos seus elementos se complementam e só fazem enriquecer, esse filme tão bonito de atos e tons - tudo determinado e indireto, que exigem inferência -, vale a pena ver de peito aberto.

O filme de Malick é pra se ver com a apreciação digna que a arte merece, a passividade da platéia pode ou não pegar bem, isso não realmente importa para quem estiver com o coração e a mente disponível.

Os interlúdios - sejam eles por entre-cortes ou fade out -, fazem questão de fotografar com carinho o cenário dessa estória, não só nessas passagens entre cenas, mas em seu decorrer à quase todo instante nas tomadas em locação exterior, Cinzas do Paraiso é dono de uma das melhores fotografias da história do Cinema, Nestor Almedros e Malick aqui conseguem capturar (nos campos longíquos no Canadá como palco), a grandiloquencias da natureza e seus campos por planos panorâmicos e ainda atenciosos à uma visão intimista dos insetos nos campos de trigo, ah sim, e finalmente dentre os planos mais lindos, vale-se destacar, um momento em questão: em um frame, a camera e testemunha, enquadra a caminhada de seus personagens e em segundo plano, o horizonte no entardecer, céu e terra são as constantes nessa trama, o palco, e os personagens, as variáveis do espetaculo, complexos e indecífraveis, são as chaves do filme.

Não me perderei, a estória é um conto sobre um casal quase nomade no século XX, mas que clamam serem irmãos - num dos únicos discursos preto no branco do filme por assim dizer, isso seria para evitar comentários desagradaveis sobre a condição de casal (alguns desconfiam, alguns posteriormente descobrem) -, são eles Bill (Richard Gere) e Abby (Brooke Adams), e em certa ocasião viajam para o sul, na companhia de uma garota, arrumam trabalho nos campos de trigo por lá, cujo proprietário dessas vastas terras se apaixona por Abby, logo o casal ''combina'' de casa-la com o dono das terras ao descobrir que o mesmo estaria enfermo e logo morreria, pelo dinheiro.

É inferência da platéia, e penso que principalmente Cinzas do Paraiso trata-se do efêmero, e nós presenciamos esses momentos tenros de um casal - que um ao outro são tudo que têem, são respectivamente as pessoas mais importante de suas vidas -, o amor compartilhado, recíproco e exclamado fora todo o necessário - ah! sorte deles, casaram esse amor com essa paisagem -, isso fica claro quando em uma das citações mais declaradas (finalmente fugindo um pouco do clima introspectivo da fita), Bill diz à Abby - que acabará a se apaixonar pelo proprietario das terras -, "Eu não sabia o que tinha com você", e isso porque ele a perderá, é assim quando o primeiro ato de sol nascente, é encoberto pelo fogo dos campos de trigo que determinariam o tom do ato seguinte.

Não pode-se contar demais, mas persona intrigante que é, Terrence Malick (que também assina o roteiro), opta pelo espirito catártico e contrário que indica o cenário da trama, mas num filme tão sensível como esse, basta se entregar.

Recomendadissímo.

Nota: 7,0





















segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A Mulher faz o Homem (1939) - Frank Capra



Pode ser visto como pura utopia ou embuste que qualquer trama com um pingo de verossímilhança traçe os caminhos de enredo como A Mulher Faz o Homem (1939) o faz, mas aqui Capra é o arquiteto, e a armadilha mágica dele mais que funciona.

Frank Capra: diretor consagrado dos chamados feel-good movies, aqueles filmes com final feliz que dotam de artificios duvidosos para que o espectador tenha aquela sensação maravilhosa de ter presenciado uma estória extraordinária, daquelas dignas de serem vividas por nós mesmos, normalmente com discursos formulaicos de superação, injustiças e bons personagens centrais.

Esse aqui desenrola-se à partir dessa premissa: um ingênuo (à principio) rapaz do interior dos Estados Unidos, chamado Jefferson Smith (pelo sensacional James Stewart) é convidado a ser senador do país, e então viaja para Washington, pouco à pouco começa a ver bem além da superficie - das aparências exteriores da coisa -, e se descobre no meio de uma trama de corrupção e amoralismo por parte das outras pessoas do meio, e nesse emaranhado enredo se envolve com Clarissa Saunders (Jean Arthur, ótima) sua assistente e começa à ser movimentar em prol de suas ideologias éticas e morais, que parecem inviáveis a serem realizadas, mas motivado pela memória de seu pai - no caso apenas citado - e pelos seus principios, agora luta à desmascarar os corruptos do meio.

Não trata-se de um filme de virtuosidades técnicas, e sim deve-se mérito para Capra na direção, no que diz respeito à interpretação artistica e poderosa do roteiro de Lewis R. Foster e Sidney Buchman, extraindo do script boas atuações e personagens fortes - ah... escolhas felizes de elenco -, direção excepicional de atores, garantindo uma ótima mise-en-scene dos mesmos, e captando ângulos marcantes.

Assim como A Felicidade Não Se Compra (1946), do próprio Capra, alguns exageros tomam conta da tela, tudo em prol do discurso mais eficiente da situação recorrente, daqueles pra fisgar o espectador, valendo-se de - monólogos longos e destacados de seu personagem central, mensagem final mais que explicitia, maniqueísmo em altas doses e o sempre declarado final feliz; esses supracitados, não exatamente defeitos, mas sim artificios rasteiros, que obviamente dão muito mais força à narrativa, mas ainda sim truques fáceis para que isso aconteça, no caso deste aqui, o efeito poderia ser mais impelido pela longa duração - primeiro ato letárgico.

E a maior qualidade da fita é a dosagem perfeita entre filme politico e tratamente adequado aos personagens, então nada fica de segundo-plano, tudo é bem explorado e forte, e o roteiro é tão bom que não ultrapassa o limite do aceitável no que se refere a verossímilhança, ao contrário por exemplo de Tropa de Elite 2 (2010) de Padilha, tudo que vemos segue orgânico e compreensível, o enredo segue uma linha tênue do que pode parecer "mentiraiada" e "viável", felizmente, esse aqui cai aos lados do ultimo.

Nota: 8,0
































sábado, 4 de fevereiro de 2012

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977) - Woody Allen




Annie Hall foi o primeiro sucesso estrondoso de Allen, isso é fato, fora aquele que lhe daria meios futuramente, para filmar obras mais folgadas em orçamento e o garantiria mais liberdade criativa, e o curioso é observar que Annie Hall não é um filme exatamente que possa se encaixar como comercial, não é um filme adequado, não é quadrado, e seu sucesso tanto critico e comercial deve-se a sua saturação de particularidades e ousadia, trata-se de um filme cheio de frescor - em todos os aspectos possíveis -, uma novidade, um filme de condução orgânica e ao mesmo tempo peculiar, que transpõe ao extremo o formato e estrutura de um filme trivial ; e é maravilhoso saber que Annie Hall, passados mais 30 anos, pode ser visto com puro deleite nos dias de hoje.

Comédia romântica com quebras cronológicas, dialogos àgeis, personagens distintos, retrato sarcástico da vida social, refêrencias culturais, cacoetes imorais... ufa! sendo que nos dias de hoje nosso inconformismo se dá ao status quo justamente oposto ao que Annie Hall se prestava: inovação. Uma pena que hoje o genêro não tem colhões para dar lugar ao novo, e cada fime pareça plágio de outro.

A premissa da pelicula é simples - vale observar que comédias romanticas tratando-se de casais inadequados e improváveis estão na moda nos dias de hoje -, Woody Allen além de escrever e dirigir, atua como Alvy Singer (naquele seu esteriótipo definitivo, e bem parecido com sua própria persona no meio hollywoodiano), humorista judeu, garanhão? não exatamente - magricelo, neurótico, pálido e tão falador quanto uma matraca ambulante -, mas que genialmente em contrapartida do conceito de seu personagem, em nenhuma parte do filme parece realmente sofrer no que se refere à relações casuais com mulheres - aqui existem citações recorrentes de seus relacionamentos posteriores, em diferentes épocas de seu pretérito -, que em uma reunião trivial com amigos, conhece e posteriormente se apaixona por Annie Hall (pela lindissíma e carismática Diane Keaton, já conhecida na época, tendo feito Godfather I e II por exemplo), uma aspirante á cantora, de personalidade levemente mais inconsequente que seu conjuge, mas igualmente cheia de idiossincrásias e bipolaridades, que gosta de viver ao passo que as coisas acontecem em sua vida, entusiasta de novas experiencias e experimentações. E apresentados os personagens, o relacionamento de ambos baseia-se nos altos e baixos em geral, esse aqui tem suas turbulências também, e basicamente é o todo da obra, o núcleo de seus objetivos à serem tratados, é a relação Alvy-Annie.

Ah... as nuances de Annie Hall, o enredo não é linear em sua totalidade, a estória caminha conforme ao que é discutido no momento, e algumas modificações cronologicas nada convencionais ocorrem aqui, ex: quando momentos da infância de Alvy estão sendo dialogados, para uma observação mais precisa e bem humorada - inteligentissíma e hoje em dia plagiada - do espectador, a situação sendo conversada em tela é cortada para a coisa real, sim, dando forma ao conhecido flashback, e mais genial ainda, é que conforme a situação acontece, os personagens cujo relembravam o momento em questão, estão também em cena, mas em segundo plano, aqui "invisiveis", como platéia, tornando a idéia supracitada ainda mais que apenas uma quebra linear, mas também, torna inerente real-fantasia - assim como o recurso também popularizado por este aqui: um personagem falar diretamente para a câmera, falando com a platéia, como Alvy o faz usualmente -, totalmente possível quando se trata de Cinema, e também algumas desconstruções mais básicas da estrutura narrativa acontecem, como após o argumento já ter se desenrolado até certo ponto, ai então descobrimos como Alvy e Annie se conheceram, considerando que desde o começo ao que somos apresentados, Alvy e Annie já são retratados como casal.

Tão dinâmico mesmo que pode vir a cabeça filmes como "Jejum De Amor (idem, 1940)", que se reinventa no próprio argumento, cheio de gags e pérolas tão maravilhosas que devem ser citadas, como a observação de Alvy sobre Annie fumar maconha antes de fazerem sexo: "Me incomodo com isso, soa que não estou realmente te satisfazendo, é como fazer alguém chapado rir em uma apresentação, sendo que nesse estado ele rirá de qualquer coisa" ou umas das mais memoráveis, talvez "A" mais memorável frase seja: "Fazemos de tudo para dominar com perfeição a arte, já que na vida isso não é possível", essa última colocada como uma brincadeirinha metalinguistica.

Annie Hall é a compilação das idéias de Allen em cena, e cada frame tem sua assinatura, é um filme que derruba os tabus do Cinema em prol do mesmo, e enfim, quem ganha somos nós, que podemos sempre ver as desventuras deste romance maravilhoso e emocionante, que abdicou do básico voluntáriamente e revolucionou o genêro pra sempre. Obra-prima.

Nota 9,0