sábado, 3 de março de 2012

Tropa de Elite 2 (2010) - Jose Padilha



Após o excepicional Tropa de Elite (2007), viria 3 anos depois, naturalmente, a continuação da utópica odisséia do nosso célebre Capitão Nascimento (Wagner Moura) pelo agora hypado diretor Jose Padilha - o filme emblema de uma nação indignada -, contra a corrupção de sua patria. Enquanto o primeiro filme da saga se foca nos escroques das ruas, dos menores traficantes nos morros do Rio de Janeiro - e levemente ja aponta para o que tomaria lugar no segundo filme (corrupção interna na policia) -, o segundo filme expande a sua ótica para uma prisma panoramica da corrupção do pais e o termo mais citado no filme, o "Sistema" que toma conta do país.

Agora em 2010, a luta do Cpt Nacimento do povo - agora dentro do ministério -, é a luta contra as milicias - a "mafia" interna do governo -, sendo que agora seus inimigos estão sempre proximos, à cada metro quadrado, o perigo é constante e latente. A narrativa (tenta) expandir o foco para suas relações familiares, exclusivamente seu filho, envolvendo seu amadurecimento, e vale-se destacar a sua relação com Rosane, agora sua ex-mulher.

Tropa de Elite 2 é o filme mais canastrão dentre os mais canastrões da história do Cinema como é conhecido. O filme extrapola por completo os limites da verossimilhança narrativa. Tropa de Elite 2 é um filme para incitar discussões - é seu oficio e resultado -, mas por um olhar mais cuidadoso, as verdadeiras discussões à serem levantadas são referentes a repreensível qualidade da propria obra; desviando o foco para onde o filme realmente se presta. A alegoria á corrupção dentro do governo brasileiro.

* PS: só para que este texto jamais seja mal interpretado. Só será levado em questão o factual elemento colocado por Padilha no inicio de seu filme: "Esta é uma obra de ficção". É assim que o texto tratará o filme. Esquecendo da nossa realidade. Embora seja evidente que o filme faça referência ao mesmo - a realidade atual. O texto se referirá à realidade estabelida dentro das condições impostas por Padilha em sua obra.

No filme de Padilha - repito, não farei referencia de qualquer relação do filme com a realidade. É questão de logica que o filme de Padilha tem defeitos explicitos e manipuladores - esses defeitos, são na verdade muito mais artificios rasteiros do que defeitos propriamente, pois nenhum realizador produziria tais coisas estando ciente.

Antes de detratar o filme nessa questão, vou brevemente citar a parte técnica do filme - que também acho superestimada. Pra começar ja posso dizer que considero o uso do in media res usado no filme totalmente esquemático e tosco - novamente Padilha aposta na montagem não linear na obra, mas aqui não tão eficientemente como no primeiro filme. A direção também é mediocre - a produção é apenas consequencia do orçamento mais folgado gerado pelo seu antecessor.

A direção do filme no que se diz respeito ao uso da câmera não se difere muito do primeiro. A utilização da camera em punho é constante, não abusa de show cutting, e Padilha opta novamente por tomadas em utilização trêmula da camera conforme as sequencias.

Quem não gosta de ver Capitão Nascimento esculachando um politico em uma batida de rua e dizer que vai matar todo mundo? Quem não gosta de ver Capitão Nascimento de terno e gravata ganhando lugar no senado apontando o dedo geral na podridão e pessoas no meio politico? Em que filme que um tantinho respeita o publico o bastante para não atropelar os termos impostos pelo mesmo? Padilha não foi um sacana na leviandade do formato populista da obra em questão?

É simples. Não requere muito esforço para compreender o quão ilogico e manipulador Tropa de Elite 2 é. Em um mundo dominado por corrupção onde tais situações dão lugar. Padilha é rasteiro em abusar de trapaças narrativas - ele também assina o omisso roteiro.

Se recordam de como após o climax do filme - o confronto Bope-PM -, de como logo após aquela cena o filme não se presta a explicações e corta direto para Nascimento no Senado; no ecstasy do momento ninguem ao menos percebe.

E aqui eu me entrego: quando vi o filme pela primeira vez no Cinema, aplaudi. Após rever, apenas repreendi. Além de praticamente taxar toda PM do RJ como corrupta. Não sou contra o sonho proposto pelo filme, apenas da forma mal aparada e apelativa como é feita. A utopia do filme jamais é defeito.

Nota: 5,0










































quinta-feira, 1 de março de 2012

Nostalgia (1983) - Andrei Tarkovsky




"Devemos voltar no ponto cujo tomamos o caminho errado"
"Que mundo é esse onde se suja a àgua"

É a neblina das lembranças, a névoa da identidade, o niilismo do ser e do mundo; eu lembro quando vi "O Espirito da Colméia (1973)" pela primeira vez, e tive mesmo a impressão de que após 97 minutos de filme, ao fim da pelicula, não lembrava mesmo, de nada que vi até ali, era como a experiência tivesse esvaido-se para fora da tela, mas não havia incorrido em mim. E agora tendo visto este aqui, sei que a contemplação é incerta - é a variavel do estado de espirito -, no entanto, é certo que é a constante do coração - é sim, esse o motivo do gosto pessoal -, e que quando valido é, sabe-se que valeu a pena.

Mais pessoal que Nostalgia é impossível - Tree Of Life pareceu brincadeira de criança, alias. Afinal, Tarkovsky vale-se do devaneio - puro onirismo por aqui -, ele fotografa seu filme com tonalidade sépia, steadicam em seu uso pleno, ele filma a agua e o fogo. E tudo é contemplação, tudo é a imagem em busca da reação e compreensão - não confundir com "entendimento".

É preciso entender que todo o filme é um paradoxo, e nunca realmente sabemos pra que lado o filme "pesa" mais. Nostalgia é dedicado à mãe de Tarkovsky conforme o letreiro final denuncia, e realmente soaria estranho que a obra pesasse ao lado misantropo da coisa (?).

Pelo menos para mim, os 125 minutos do filme passaram como um avião. Não se trata de um filme cujo o silencio é gritante, a quietude é histérica, e a lentidão é tépida. É um filme no qual tudo na verdade acontece à cada segundo.

É a obra de um cineasta com controle total sobre a mesma. Qual filme mais é capaz de tocar a platéia com o requiem da própria vida?

Nota: 7,0