segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O Segredo do Abismo (1989) - James Cameron



Ao final de O Segredo do Abismo (The Abyss, 1989) não há dúvidas, este é o mesmo diretor de duas maiores bilheterias da história do Cinema, e por conseguinte, duas das maiores megalomanias também. James Cameron é um explorador nato, e um visionário ativo em grandes causas, além de seu trabalho aclamado como cineasta, é conhecido pelos seus projetos de exploração nas profundezas do mar (no qual inclusive detém um recorde), pelo envolvimento e conscientização em problemas ambientais ao redor do mundo (notavelmente em relação ao derramamento de petróleo), bem como um defensor público do vegetarianismo. À parte de toda grandiloquência inconfundível todo arsenal artístico característico e famigerado do diretor se faz presente.

Para começar, como se trata de uma trama de resgate, Cameron trabalha nos seus campos de conhecimento ideais - a ação e a aventura -, e não suficiente, traz a história ficção-cientifica, drama e toques de romance e humor, ou seja, a sintese dos elementos-base que compõem o cinema hollywoodiano como ganhou definição pós o fim dos anos 70, e os amplificando dramaticamente à ponto de sua edição sem cortes especial (a mesma que vi) tenha mais de 170 minutos. Horas preenchidas pelos mais diversos exageros e possibilidades imaginadas que proporcionam o genero: dei ex machina impossíveis, cenas de ação grandiosamente executadas (inclusive dramaticamente), caso amoroso forte e complexo, ficção-cientifica descabida e despirocada, conflito de EUA e URSS (no qual não poupa nenhum dos lados), e todos os componenentes gerais levando a um arco narrativo megalomaniaco fantastico e ridiculo.   

É um Cameron descontrolado, e totalmente reconhecivel dentro do universo constituido: personagem feminina forte, e bem construída entre seu temperamento explosivo e sua sensibilidade feminina, protagonista de atos heróicos e redentores, efeitos especiais muito à frente de seu tempo, a marca fortemente anti-militarista e belicista que Cameron imprime em paralelo a sua época (fim da Guerra Fria), a relação entre homem-maquina e a tecnologia predominante e cercante que é ao mesmo tempo uma razão de sobrevivência e desespero. Porém, em contraponto a alguns outros filmes seus, aqui Cameron deve aproveitar o confinamento e claustrofobia como palco de sua história - como faz também em Aliens -  O Resgate (Aliens, 1986) e Titanic (idem, 1997), não exatamente da mesma forma. Estações submersas, meios de transportes sub-aquaticos e corpos sendo subjugados pela força de pressão das profundezas do mar e pelas constantes situações de afogamento iminente. O que é diametralmente oposto as perseguições e confrontos urbanos de ambos os The Terminator dirigidos por Cameron e as sequencias gigantescas de guerra futurista em outro planeta em Avatar (idem, 2009). Prova que o diretor tem total dominio de seu material, sendo um eximio manipulador da ação, e possuindo uma noção extraordinária na criação de tensão e perigo independente do cenário em que se passe seus filmes.

No seu terço final, o que era um drama de sobrevivência e um thriller com pitadas de sobrenatural, se transforma de vez em uma ficção cientifica antológica e épica (o que gera uma das cenas de ficção mais irresponsáveis e cômicas que consigo me lembrar), e possivelmente é um dos motivos da reputação tão controversa e mista que possui até hoje. Para mim, um belo feito de cinema de espetáculo e que se deixa levar pelo artificio e pelo idealismo romântico como principio - mesmo que sim, isto seja também um veiculo para assertivas "nobres" totalmente desproporcionais e com pouquissímo poder de argumentação para se levar em consideração, ainda que não chegue a ser nenhum pastiche politico não intencional. É neste contexto emaranhado e extremo que enxerga-se traços de um diretor corajoso e visionário, e um filme que na pior das hipóteses é um esforço válido e audaz.

8/10