segunda-feira, 16 de julho de 2012

Instinto Selvagem (1992) - Paul Verhoeven



A grande releitura do film-noir do Cinema contemporâneo. O genêro que foi predominante no periodo clássico do cinema, que os filmes eram erguidos geralmente à partir de obras literárias da época da Grande Depressão americana, textos que retratavam de forma romântica o genêro policial, que das páginas foram gradualmente convertidas as telonas no auge do cinema falado. Contrastando fortemente o preto-e-branco - com influencias do expressionismo alemão e mais posteriormente chegado ao neo-realismo -, o noir (que conceitualmente era um estilo visual) inevitavelmente se tornou conhecido como o tal filme de genêro: os romances de mistério que humanizavam as figuras policiais, onde detetives e tiras residiam em um ambiente geralmente desonesto, imoral e inadequado, se opondo aos bandidos crueis (mas sempre motivados), às mulheres ambiguas, a corrupção local e etc.

Em 1992, após muitas progressões liberais midiaticas, coube à Verhoeven reler e ampliar o film-noir conforme às vantagens que a época oferecia. Tirando o grafismo hiberbólico, a essencia que compõe o painel dramático do genêro continua lá. Nick Curran (detetive interpretado por Michael Douglas, em grande atuação) remonta à aquele mesmo tipo policial cheio de problemas, fraquezas e defeitos. Trajado pelo terno marrom escuro e o cigarro habitual, seus vicios. As fraquezas que o deixam ser facilmente seduzido, manipulado pela femme-fatale. E o maior inimigo do policial também está lá: seu passado. Quando em outrora, a encrenca do passado se refletia em amores mal-resolvidos, remorso e amargura, Verhoeven aproveita para extrapolar esses limites compondo uma figura cujo o passado era vivido em vicio de bebidas e cocaína, uma ex-mulher morta (em um suicidio) e por ter matado dois inocentes no fogo cruzado.

A femme-fatale de Sharon Stone (absurda) não perde em nada para as grandes personagens que encanavam essas figuras tão intrigantes. Catherine Tramell é bissexual, insinuante, é uma amplificação possante das femme-fatales do periodo clássico (ou melhor, original) do genêro. Ela ainda guarda o oficio dúbio que tal personalidade empresta ao filme. Também traz uma das cenas mais celebres e sensual dos ultimos tempos: a famosa cruzada de perna no interrogatório. O enredo reserva ainda mais a ela (num filme que na verdade, é um grande thriller); além do mais, é uma escritora que convive com pessoas envolvidas com crimes afim de inspiração e, cuja as obras se refletem em mortes conectadas à sua história e existência (que ao passo que à torna uma suspeita pela obviedade das circunstancias, igualmente-lhe imuniza, de forma que argumenta que seria estupidez escrever sobre assassinatos que à tornariam suspeita automaticamente).

Trilhando o argumento à partir do elemento mais básico do noir: a investigação policial (nossa investigação consequentemente); Verhoeven desenvolve um jogo de mise-en-scene brilhante, repleto de erotismo, tudo é rodado com o brilhantismo do diretor, com trilha sonora tensa, sexo, espelhos e ambientação de velha-guarda - que remete muito ao classico Chinatown (idem, 1974) de Roman Polanski. Os grandes beijos do noir aqui vão para dentro das quatro paredes, reforçando o processo simbólico de declinio e perdição. Todo o peso narrativo que era coração e alma do noir é elevado as ultimas circunstancias. Os coadjuvantes, aparentemente irrelevantes, se tornam peças estapafúdias para twists radicais, novas tramas surgem do nada, tudo em prol de uma continuidade de acontecimentos que se tornam um emaranhado de situações extraordinárias, desmitificando e expondo sem pudores à natureza selvagem do ser humano, do tesão imediato que deve ser satisfeito imediatamente. Verhoeven não opta por desconstruções ou inovações do objeto pronto, mas sim por intensificar, revigorar o estilo textual, e combina com as mesmas propriedades exageradas do diretor. 

A sofisticação de Verhoeven na apresentação e desenvolvimento da história é digna de aplausos. Diferente de 90% dos suspense modernos, tudo é narrado com diversos clímaces, movimento, e tensão que caminham em um só fluxo, não denotando apenas o climax final - ou o hoje em dia tão aclamado, final surpresa. Na verdade mesmo, Instinto Selvagem (Basic Instinct, 1992) é todo um grande alucinante e orgásmico filme. E no fim da história, assim como no supremo Fuga do Passado (Out of the Past, 1947), a resolução se revela mais um devaneio incerto - em uma tomada que exala a perfeição -, cujo nem mesmo o espectador deve descobrir, apenas contemplar na dúvida. Essa obra-prima de Verhoeven é grande Cinema.

9,0/10

















Um comentário:

  1. O melhor filme de Paul Verhoeven e uma obra-prima do gênero noir. Sharon Stone está inesquecível.

    http://avozdocinefilo.blogspot.com.br/

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