segunda-feira, 2 de julho de 2012

Missão: Marte (2000) - Brian De Palma



Com o que podia ser o melhor filme de De Palma, foi cravado o próprio túmulo. É no minimo interessante pensar o resultado do genêro de ficção cientifica nas mãos do diretor. O espaço (grande cenário das possibilidades no Cinema) já foi explorado em outras ocasiões outrora. Celebrado como um monumento, Kubrick realizou 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968), o filme-síntese do genêro. A odisséia no espaço de Kubrick, sobre a evolução, sobre o comportamento humano, a relação homem-maquina e mais 1000 coisas é modelo geral no Cinema. Menos conhecido, o excepicional Solaris (Solyaris, 1972), alegorias sociais e substancialmente a solidão e o espaço de espelho para a alma, as memórias, seguia os trilhos do lirismo. As indefectíveis ficções supracitadas, sobre exploração, descoberta aceitavam os desafios que o palco trazia, sem dimensões e uma gama inesgotável de questões. As obras em si, antes de tudo um ritual ao infinito ecumênico das eventualidades do universo, era o que mais importava. Na ficção cientifica, abrir novas fronteiras, desbravar até o desconhecido (alusão metalinguistica ao Cinema). Megalômaniaco, intimista, o que der na telha, pois a ficção é mesmo pra chutar o pau da barraca.

No caso de Missão: Marte (Mission To Mars, 2000), grandiloqüente e falho. Mal escrito, posteriormente nem a direção salva. A infinitude do espaço ganha traços monocromáticos e reducionistas. Um filme absolutamente forjado, eufórico de idéias estapafúrdias e há muito rarefeitas. Parece até amaldiçoado, mas Missão: Marte não funciona com nenhum tipo de publico. A tentativa para até o apoteótico é entediante ao publico-médio, ao publico-cinéfilo, ao publico-critico. Oras trivial, oras dissonante, segue sinuoso e mal realizado. Narra-se a história de um grupo de astronautas que vão até Marte em uma missão de resgate para descobrir se há sobreviventes de uma expedição anterior, que culminou numa catastrófica e misteriosa tempestade de areia.

Estraçalhado pela crítica e público, e só lembrado para ser ainda mais esmagado. Mas não é à toa, Missão: Marte é um filme cheio de problemas. Desde a abertura (com um prológo terrível de tão tosco - que poderia ter vindo da mão de qualquer diretor) até o final (carregando um sentimento tão exorbitante quanto frustrante), nota-se com facilidade que Missão: Marte é um filme desequilibrado e equivocado. Curioso e inexplicável, De Palma conduz seu filme o inibindo em excessos de pontualidade, de sustento, abusa-se de longas construções de cena (cujo o diretor é perito) rumo à um desfecho de espectativas subvertidas. A dramaturgia que se estabelece é de segunda mão, os personagens são unidimensionais e as inter-relações são arquétipos de novela. No mais, De Palma (que é um dos meus diretores favoritos) novamente é um desastre cômico, que nunca realmente foi o forte do diretor - vide Terapia de Doidos (Home Movies, 1980) e A Fogueira Das Vaidades  (The Bonfire of Vanities, 1990), os dois filmes justamente mais fracos da vasta e genial filmografia do diretor.


Do caráter onirico e psicodélico das ficções cientificas, nada sobra. Além de dramáticamente nula, a ficção cientifica depalmiana se dá por um amontoado cenas efêmeras, reduzindo o genêro à um simples thriller espacial insípido. Aproveitando a qualidade incompáravel de De Palma na edificação de tensão (que já fora muito melhor situada), a fita transpõe-se à um apanhado de cenas indiferentes e pouco relevantes no contexto geral do filme. O conceito de desbravação do genêro é contornado por um arranjamento limitrofe e reacionário, pouco excitante e muito repetitivo (50% dos dialogos se resumem em termos cientificos). A instauração do excesso de pragmatismo, dialogos, didatismo sufoca o que poderia haver de melhor no filme: a surpresa, a epifânia. Daí qualquer interação de platéia para com o filme vão se diminuindo para um olhar anódino e corriqueiro de um espectador acompanhando um suspense espacial pretensioso, anti-climático e frio. De concepção pouco cinematográfica.


Contudo, Missão: Marte tem alguns bons momentos, de singeleza genuína, quando os astronautas despirocam no espaço e reproduzem Dance the Night away (Van Halen) em plena nave, a descontração resulta talvez no melhor momento no filme (cujo é emoldurado por um dos melhores travellings da carreira do diretor, que claramente remete à um plano-sequencia da obra de Kubrick do genêro ), que como numa ciranda flutuante, dançam felizmente os personagens, esquecendo a realidade isolada que vivem (momento esse que talvez seja o único que alternam os artificios inúteis de apelo emocional pela força criativa e singularidade que possa trazer uma cena legitima como tal). Como um filme bem intencionado, no fim das contas, o resultado não foi dos melhores, ainda mais vindo das mãos do autor que rodou os melhores suspenses do cinema contemporâneo, policiais alegóricos e que produziu até então as melhores homenagens ao Mestre Hitchcock.

















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