segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Submarine (2010) - Richard Ayoade





Há uma linha tênue entre a profundidade e superficialidade no Cinema, quando se trata de filmes com tal temática (depressão, amor, relações familiares e etc), é ainda mais perigoso que a obra seja abordada da segunda forma, assim deixando a fita com um formato raso, e preguiçoso; em contrapartida, da primeira forma, pode haver o excesso minúcias, material superfluo, cheio de hiperboles, deixando a obra, ou apelativa ou canastrona.

Não é impossível equilibrar ambos, prova disso é o também maravilhoso "Por Um Sentido Na Vida (2002), dirigido por Miguel Arteta, também com personagens complexos, semblantes enigmáticos, e emoções oprimidas, seja pelo jeito em que a vida se tornou ou pelas pessoas que a cercam.

Em "Submarine", superficialidade nem chega perto, entretanto seus excessos, e quase saturação de elementos intimistas, podem afetar o resultado final (subjetivamente, é claro)

O fato é que "Submarine", ao compasso que é simplista - tratando de temas já discutidos mil vezes anteriormente -, é também complexo e minimalista (um close no problema) se destacando por penetrar nas causas e efeitos, e se diferir por justamente, ser deveras acima da média.

O enredo se passa na vida de Oliver Tate (brilhantemente interpretado por Craig Roberts, no qual reservarei um paragráfo), um adolescente quase idiossincratico, cheio de dúvidas, problemas reais, e depressivo; ele é uma contradição: pessimista (algo claro no monólogo inicial), que ao mesmo tempo luta para consertar as coisas, porque não se importa apenas consigo mesmo, e com todos ao seu redor, e sofre, sofre pra valer, por não ter com quem desabafar, se expressar, ter sua atenção; ele é complexo: ele se questiona, ele se indigna, ele ama, sofre, chora, sorri; e toda essa construção de personagem (coisa rara no Cinema, principalmente atualmente), já é digna de aplausos, pois é cuidadosa, sensível e real (capaz de se refletir em qualquer um).

Com tudo que acontece com ele, e com todos ao seu redor, ele encontra o amor, em Jordana Bevan (interpretada excepicionalmente por Yasmin Paige, ainda pouco conhecida), ele pode agora ouvir e ser ouvido, como qualquer ser humano precisa, e mesmo com sua inexperiência no assunto, tudo flui naturalmente, e de forma marcante para quem vê - desde o primeiro beijo compartilhado, o momento cujo pela primeira vez deram as mãos e até mesmo como ocorre a consumação desse amor, oh esse amor, também paradoxal (que ao mesmo tempo é timido e reprimido, expressado não por declarações e sim por gestos e atitudes).

Já basta Tate ser o centro de um espiral de objetos intrigantes, em grande parte abstratos, tais como suas duvidas existenciais, ele vive em uma casa, onde acompanha a infeliz, tépida e monótona vida de seus pais - Jill e Lloyd Tate (por respectivamente Sally Hawkins e Noah Taylor), casados já a tempos, agora ameaçados pela presença Graham Purvis (por Paddy Considine), caso que já é pretérito na vida de sua mãe, mas no presente está próximo, de simplesmente desmoronar com um sopro, seu longo e frágil casamento.

A vida não é fácil, não segue fácil, e Tates, acompanhado por Jordana, continua caminhando, e agora onde surgem os principais conflitos da trama - manter sua relação com sua namorada, e tentar salvar o casamento de seus pais, assim iniciando o segundo ato.

Vale observar, que apesar de "Submarine" não ser um filme no qual os aparatos técnicos (exceto a edição, prestes a ser analisada) devem ser o foco principal, a fotografia do filme é tão maravilhosa e simbólica, que se torna um elemento essencial na estória - fria, montanhosa, natural... não é uma cidade urbanizada (civilizada, sim), mas não há prédios, grandes edificios ou construções do tipo, se passa em alguma região (nunca especificada) em algum lugar mais distante, nos confins da Inglaterra.

A edição é um primor idem, pois em muitas cenas, saindo do campo comum, "Submarine" tem sequencias, por exemplo que se passam dentro da mente de Tate - memórias principalmente -, então ganham um tom mais peculiar, tanto visualmente e na área sonosplastica (emolduradas em grande parte por trilha sonora, e vista sob câmera trêmula e tons mais claros).

Por essa fita, eu queria me ajoelhar e venerar seus realizadores, mas devo tudo que senti principalmente à Craig Roberts, que com seus trejeitos singulares e sempre adequados à cada situação, tornou Oliver Tate um personagem único.

Cenas maravilhosas - Tate desesperado e chorando, nesse caso, espiando sua mãe suspeitando que ela estaria legitimando seu caso extra conjugal, correndo desesperado, no meio de uma celebração banhada a fogos de artificio e pessoas sorrindo, um contraste perfeito e emocionante, que no calor do momento, funciona magistralmente como Cinema, pura emoção e poesia (sendo esta minha favorita) - e abordagem ímpar são os elementos que fazem "Submarine" se sobressair à tantos outros do genêro.

Em suma, um filme emocionante, que até agora é meu filme favorito da década,talvez atrás de A Rede Social, levo-o com consideração com todos seus defeitos e qualidades, esse ultimo, são tantas, que fica dificil não adorar.

Nota 8,0
 



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