sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A Árvore Da Vida (Terrence Malick) - 2011



Não gostei de "A Árvore da Vida" quando o vi pela primeira vez; fóruns e discussões a fora nunca escondi esse sentimento, e fui deveras metralhado por muitos (não estou defendendo ou atacando os mesmos, apenas relatando) por ser detrator ferrenho do filme, alguns meses depois decidi que iria vê-lo com mais carinho, e assim o fiz momentos à pouco, dediquei-me a assistir a obra novamente, ainda para mim, a obra de Malick ainda segue com seus altos e baixos.

Tree of Life é pretensioso, mas vejo sinceridade - ainda que ambas as virtudes não acrescentam ou diminuem o filme necessariamente, logo a afirmação anterior só consta como observação; mais que tudo, o filme de Malick é um filme de muitos devaneios e questionamentos - cujo alguns parecem relevantes, alguns nem tanto -, como conclusão final acredito que trata-se de um filme ontológico - antes de tudo, um questionamento na vida e do ser, e como a natureza (aqui materializada, como comentarei) o afeta; curiosamente isso levanta um paradoxo interessantissímo: se a tese estiver certa, logo as respostas de Tree of Life são os questionamentos em si - isso tudo são nada mais que teorias.

O gigantesco arco dramático da fita tem como alicerce a estória de uma familia americana (no caso, época/localização não realmente importam, embora pareça que o filme se passa relativamente em tempos não muito distantes, talvez anos 50/60, julgando pelo mundo apresentado nos momentos em que a narrativa se vira ao personagem Jack já adulto, um mundo moderno), familia essa com seus "momentos" e "problemas" - no filme, representada pelas incorporações espirituais de natureza e graça, respectivamente a mãe (graça, por Jessica Chastain) e o pai e agregado (natureza, por Brad Pitt).

A ocorrência que dá inicio ao insight espiritual dos personagens - consequencia natural e inconsequente dos mesmos após morte -, e do filme no qual acompanhamos - a odisséia pelo universo (origem, fim) -, é a morte de um dos irmãos dessa familia - em um tempo não determinado -, á partir disso toda a metafisíca levantada (principio fundamental da filosofia) é conseqüencia da morte: quem diria que depois da morte (ao menos do corpo e espirito na Terra que conhecemos), que nos traria à epifânia do coração/mente/corpo nos faria questionar a vida?.

O questionamento da existência de Deus (quem mais questionar ou talvez culpar a morte? Deus e a si mesmo) é o que toma conta do primeiro ato (principalmente aqui, mas durante o filme todo à questão é dada seu lugar) da obra - pela mais irritante e natimorta narração em off ever, culpado quase unânime pelo tom deprimente e predominante que o filme pode tomar para alguns espectadores (afastando muito o filme do publico mais impaciente e casual), com certeza deve-se ao tom sorrateiro e enlouquecidamente chato que Malick (culpado por orientar mal os atores nessa questão), decide por deixar em aúdio constante na tela; voltando ao ponto, embora a narração pode adormecer-nos, ela é essencial e é virtude grandiosa no filme pois a mesma não é exclamada por um só personagem, então todos eles (bom, quase todos) expressam-se livremente - independente do jeito que for - livremente dependendo de para quem os focos do filme se desviam.

Tais questionamentos são clarissímos declarados à duvida da existencia de Deus; principalmente pela mãe e Sra. O'Brien, dona das seguintes exclamações e perguntas como: "Eu servi vosso fiel", "Onde o senhor estava?"; mas ela não é a única, Jack também fala (ainda criança): "Porque deveria eu ser bom, se o Senhor..." parecendo assustado em concluir o questionamente em questão... e também adulto (desorientado e abaladissímo pela morte de seu irmão, que morrera com 19 anos), a câmera de Malick parece indicar que Jack ainda questiona os céus, sendo que subjetivamente a câmera aponta constantemente até lá.

Depois de tudo isso, o filme joga abruptamente à platéia a origem do universo (a parte mais interessante do filme, de longe, parte essa, téorica, é claro), levantando talvez minha maior dúvida sobre o filme (talvez gafe gravissíma de Malick e do filme,): porque seus personagens e quase que objetivo principal do filme questionam à Deus os acontecimentos da vida, se por indicação do diretor/filme, a explicação que ele presta para a criação e origem do universo fora cientifíca? - está tudo lá: a colisão entre os embriões, a explosão que gerou tudo ali.

O interessante é que logo após acompanharmos o Big Bang que criara o universo, parte-se logo para a vida pronta na Terra - o corte em questão à principio foca-se a àgua primeiramente (por ótica submersa mesmo) e segundos depois, para a superficie, na qual vemos a  tão comentada cena do dinossauro (que na minha opinião é uma cena quase risível, totalmente desnecessária, uma cena de significados isolados, totalmente à parte do conceito da obra, soa pouco sincero e muito bobo), cena essa em que um dinossauro caminha pela natureza e vê outro dinossauro - morimbundo, deitado inofensivamente atrás de uma pedra -, a intuição primitiva de carne fácil parece vir a cabeça em primeiro lugar, então o dinossauro (o mesmo que caminhava)  o mata brutalmente, e logo ao vê-lo sofrendo pelo golpe sofrido, não o consome, e em seguida abandona abandona o lugar (?!).

Após essa derrapada, Tree of Life relata de forma linda (tempos esses, bem antes da morte do irmão supracitada, pulando agora no começo desta familia), o nascimento do primeiro filho (Jack); pra mim essa sequencia se segura fácilmente como a mais bonita e emblemática do filme, na qual fotografa o efeito da criação da vida de um filho, tempos de felicidade extrema - momentos esses filmados com auxilio mais que eficiente da fotografia de Emmanuel Lubezki e da trilha sonora incidental graciosissíma.

Jack é a representação da árvore da vida. O filme é o relato de seu crescimento e amadurecimento - suas primeiras emoções da vida (desde as essenciais primeiras experiencias e os posteriores sentimentos que sente como ser humano): são elas (que valem-se destacar), o ciume que sente de seu irmão quando bebê, a primeira paixonite na escola (já pré-adolescente), a repreensão de seu pai (natureza) e etc.

Os conflitos do filme se baseiam na relação pai-filho entre Sr. O'Brien e Jack, que se sente repreendido e passa à desprezar o pai (por pura falta de compreensão e ignorância na verdade, ainda que seja uma reação natural, é pura leviandade, não sabes que seu pai só quer o proteger e lhe ensinar), e certamente essa é a parte mais mal conduzida e aborrecida do filme, e redundante; após a viagem do pai à negocios, Jack (ainda furioso), passa a se comportar ainda mais rebeldemente, inclusive chegando a machucar seu irmão por pura diversão - a mensagem que o ato passa é mais que clara -, após se arrepender e ser perdoado por seu irmão, volta a se acertar com seu pai - após o mesmo retornar de sua viagem -, mas o filme parece destruir a própria proposta e a mensagem com a afirmação incompreensível por Jack: "Agora sei, me pareço bem mais com você (pai, natureza) do que com ela (mãe, graça), sou tão mau quanto você". Afirmação essa que parece questionar a presença natural (e necessária) da natureza.

Voltando à Jack adulto (por Sean Penn) - não deixando esquecer enquanto caminha destrambelhado, que sua consciencia parece estar num lugar distante, seguindo à si mesmo quando garoto -, os minutos finais do filme tratam-se de uma sequencia quase onírica (já comentada), na qual, nesse "segundo-plano", se situa em um lugar deserto (parecendo um deserto de aguas rasas), Jack está com na presença agora de todos os seus entes queridos (agora já reconciliados); seria esse o fim dos tempos? (como a narração em off em um ponto indica), será que no fim das contas tudo que A Árvore Da Vida quer dizer é que devemos amar e sermos bons? Simples assim?

"A única forma de ser feliz é amando, se não, a vida passa como um flash"

Parece que sim (e talvez não precisa-se ir tão longe para isso, e escorar milhões de temas como o filme faz, fazer o que...). De qualquer forma, o filme mesmo com seus excessos - o que torna perigoso tornar muito de tudo dispensável -, a obra está longe de ser anemica ou vazia.

* Só para não esquecer, a sequencia onirica supracitada é embalada por tomadas curiosas: em uma delas, uma porta é aberta, mas tudo que vemos é agua (alegoria clara à vida, o incentivo para seguir em frente após a morte), e outra na qual um dos meninos (um dos irmãos) está em um quarto escuro e com uma lanterna - e sua mão tampando a luz -, e depois o mesmo tira sua mão, e ilumina seu rosto (soando como alegoria à apoteótica epifânia que Jack tem nessa sequencia).

Nota: 6,0
























































































2 comentários:

  1. Pretensioso ou não, eu o acho uma experiência visual e sonora inesquecível, singular e fascinante. Mas é um pouco supervalorizado, de fato.

    http://cinelupinha.blogspot.com/

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  2. Gosto do filme Rafael, apenas acho o conteúdo tanto pequeno á desnecessária transcendencia do discorrer que Malick pretendeu.

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