terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Cinzas do Paraiso (1978) - Terrence Malick



Cinzas do Paraiso é uma prosa incomum, é uma estória que estima tudo aquilo que toma espaço na tela, mas a mesma é simplória, na mão de Malick ganha certas nuances, não perfumaria - é oprimido/enrustido, poético e sentido -, todos seus elementos se complementam e só fazem enriquecer, esse filme tão bonito de atos e tons - tudo determinado e indireto, que exigem inferência -, vale a pena ver de peito aberto.

O filme de Malick é pra se ver com a apreciação digna que a arte merece, a passividade da platéia pode ou não pegar bem, isso não realmente importa para quem estiver com o coração e a mente disponível.

Os interlúdios - sejam eles por entre-cortes ou fade out -, fazem questão de fotografar com carinho o cenário dessa estória, não só nessas passagens entre cenas, mas em seu decorrer à quase todo instante nas tomadas em locação exterior, Cinzas do Paraiso é dono de uma das melhores fotografias da história do Cinema, Nestor Almedros e Malick aqui conseguem capturar (nos campos longíquos no Canadá como palco), a grandiloquencias da natureza e seus campos por planos panorâmicos e ainda atenciosos à uma visão intimista dos insetos nos campos de trigo, ah sim, e finalmente dentre os planos mais lindos, vale-se destacar, um momento em questão: em um frame, a camera e testemunha, enquadra a caminhada de seus personagens e em segundo plano, o horizonte no entardecer, céu e terra são as constantes nessa trama, o palco, e os personagens, as variáveis do espetaculo, complexos e indecífraveis, são as chaves do filme.

Não me perderei, a estória é um conto sobre um casal quase nomade no século XX, mas que clamam serem irmãos - num dos únicos discursos preto no branco do filme por assim dizer, isso seria para evitar comentários desagradaveis sobre a condição de casal (alguns desconfiam, alguns posteriormente descobrem) -, são eles Bill (Richard Gere) e Abby (Brooke Adams), e em certa ocasião viajam para o sul, na companhia de uma garota, arrumam trabalho nos campos de trigo por lá, cujo proprietário dessas vastas terras se apaixona por Abby, logo o casal ''combina'' de casa-la com o dono das terras ao descobrir que o mesmo estaria enfermo e logo morreria, pelo dinheiro.

É inferência da platéia, e penso que principalmente Cinzas do Paraiso trata-se do efêmero, e nós presenciamos esses momentos tenros de um casal - que um ao outro são tudo que têem, são respectivamente as pessoas mais importante de suas vidas -, o amor compartilhado, recíproco e exclamado fora todo o necessário - ah! sorte deles, casaram esse amor com essa paisagem -, isso fica claro quando em uma das citações mais declaradas (finalmente fugindo um pouco do clima introspectivo da fita), Bill diz à Abby - que acabará a se apaixonar pelo proprietario das terras -, "Eu não sabia o que tinha com você", e isso porque ele a perderá, é assim quando o primeiro ato de sol nascente, é encoberto pelo fogo dos campos de trigo que determinariam o tom do ato seguinte.

Não pode-se contar demais, mas persona intrigante que é, Terrence Malick (que também assina o roteiro), opta pelo espirito catártico e contrário que indica o cenário da trama, mas num filme tão sensível como esse, basta se entregar.

Recomendadissímo.

Nota: 7,0





















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