sábado, 4 de fevereiro de 2012

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977) - Woody Allen




Annie Hall foi o primeiro sucesso estrondoso de Allen, isso é fato, fora aquele que lhe daria meios futuramente, para filmar obras mais folgadas em orçamento e o garantiria mais liberdade criativa, e o curioso é observar que Annie Hall não é um filme exatamente que possa se encaixar como comercial, não é um filme adequado, não é quadrado, e seu sucesso tanto critico e comercial deve-se a sua saturação de particularidades e ousadia, trata-se de um filme cheio de frescor - em todos os aspectos possíveis -, uma novidade, um filme de condução orgânica e ao mesmo tempo peculiar, que transpõe ao extremo o formato e estrutura de um filme trivial ; e é maravilhoso saber que Annie Hall, passados mais 30 anos, pode ser visto com puro deleite nos dias de hoje.

Comédia romântica com quebras cronológicas, dialogos àgeis, personagens distintos, retrato sarcástico da vida social, refêrencias culturais, cacoetes imorais... ufa! sendo que nos dias de hoje nosso inconformismo se dá ao status quo justamente oposto ao que Annie Hall se prestava: inovação. Uma pena que hoje o genêro não tem colhões para dar lugar ao novo, e cada fime pareça plágio de outro.

A premissa da pelicula é simples - vale observar que comédias romanticas tratando-se de casais inadequados e improváveis estão na moda nos dias de hoje -, Woody Allen além de escrever e dirigir, atua como Alvy Singer (naquele seu esteriótipo definitivo, e bem parecido com sua própria persona no meio hollywoodiano), humorista judeu, garanhão? não exatamente - magricelo, neurótico, pálido e tão falador quanto uma matraca ambulante -, mas que genialmente em contrapartida do conceito de seu personagem, em nenhuma parte do filme parece realmente sofrer no que se refere à relações casuais com mulheres - aqui existem citações recorrentes de seus relacionamentos posteriores, em diferentes épocas de seu pretérito -, que em uma reunião trivial com amigos, conhece e posteriormente se apaixona por Annie Hall (pela lindissíma e carismática Diane Keaton, já conhecida na época, tendo feito Godfather I e II por exemplo), uma aspirante á cantora, de personalidade levemente mais inconsequente que seu conjuge, mas igualmente cheia de idiossincrásias e bipolaridades, que gosta de viver ao passo que as coisas acontecem em sua vida, entusiasta de novas experiencias e experimentações. E apresentados os personagens, o relacionamento de ambos baseia-se nos altos e baixos em geral, esse aqui tem suas turbulências também, e basicamente é o todo da obra, o núcleo de seus objetivos à serem tratados, é a relação Alvy-Annie.

Ah... as nuances de Annie Hall, o enredo não é linear em sua totalidade, a estória caminha conforme ao que é discutido no momento, e algumas modificações cronologicas nada convencionais ocorrem aqui, ex: quando momentos da infância de Alvy estão sendo dialogados, para uma observação mais precisa e bem humorada - inteligentissíma e hoje em dia plagiada - do espectador, a situação sendo conversada em tela é cortada para a coisa real, sim, dando forma ao conhecido flashback, e mais genial ainda, é que conforme a situação acontece, os personagens cujo relembravam o momento em questão, estão também em cena, mas em segundo plano, aqui "invisiveis", como platéia, tornando a idéia supracitada ainda mais que apenas uma quebra linear, mas também, torna inerente real-fantasia - assim como o recurso também popularizado por este aqui: um personagem falar diretamente para a câmera, falando com a platéia, como Alvy o faz usualmente -, totalmente possível quando se trata de Cinema, e também algumas desconstruções mais básicas da estrutura narrativa acontecem, como após o argumento já ter se desenrolado até certo ponto, ai então descobrimos como Alvy e Annie se conheceram, considerando que desde o começo ao que somos apresentados, Alvy e Annie já são retratados como casal.

Tão dinâmico mesmo que pode vir a cabeça filmes como "Jejum De Amor (idem, 1940)", que se reinventa no próprio argumento, cheio de gags e pérolas tão maravilhosas que devem ser citadas, como a observação de Alvy sobre Annie fumar maconha antes de fazerem sexo: "Me incomodo com isso, soa que não estou realmente te satisfazendo, é como fazer alguém chapado rir em uma apresentação, sendo que nesse estado ele rirá de qualquer coisa" ou umas das mais memoráveis, talvez "A" mais memorável frase seja: "Fazemos de tudo para dominar com perfeição a arte, já que na vida isso não é possível", essa última colocada como uma brincadeirinha metalinguistica.

Annie Hall é a compilação das idéias de Allen em cena, e cada frame tem sua assinatura, é um filme que derruba os tabus do Cinema em prol do mesmo, e enfim, quem ganha somos nós, que podemos sempre ver as desventuras deste romance maravilhoso e emocionante, que abdicou do básico voluntáriamente e revolucionou o genêro pra sempre. Obra-prima.

Nota 9,0















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