sexta-feira, 13 de abril de 2012

Amantes (1984) - John Cassavetes



Correntes de amor. Cassavetes com Amantes (Love Streams, 1984) realizou um dos filmes mais realistas da história do Cinema. Trata-se de uma catarse, mas não daquelas exatamente shakespearianas ou que renderiam frases de Dickens; não é bonitinho, não é caricato, e seus 141 min de projeção não pregam exatamente alguma filosofia. Sua projeção apresenta nada mais que a verdade, dentre os filmes, talvez seja o filme que melhor representa a tragédia pessoal, não pela forma na qual é contextualizada, mas sim pelo realismo absoluto no qual nos é adiantado.

Não sei se é um absurdo se fustrar com Amantes; não é um filme acessível e também não é um filme de desdobramentos; em qualquer que seja a época, esse fato não muda, o publico acostumado com novela das oito ou com o formato do cinema popular dificilmente vai se adequar e muito mais dificilmente irá se conformar com o filme - que apesar de ter admiradores, é um filme pouco visto (mesmo tendo ganhado o Urso de Berlim no festival de 1984). É uma retratação crua das pessoas. É um filme que nos seus personagens representam as forças da vida - os problemas - e logo, suas consequencias fisicas e psicologicas.

Á principio, a narrativa é dual, se focando em dois personagens em especial: Sarah (Gena Rowlands, em uma atuação tão perfeita, que sintetiza a proposta do filme) uma mulher que se encontra em um processo de divórcio, ainda amando o marido e destruida pela decisão de sua filha preferir estar sob a custódia do pai. E Robert (pelo também diretor, John Cassavetes), um homem ala John Russo (personagem de Ben Gazzara em Muito Riso e Muita Alegria (They All Laughed, 1981), mulherengo, beberrão e galanteador, exceto pelo fato que é um homem quebrado, que em nenhuma vez em sua vida realmente conseguiu conviver com alguem - e ainda não consegue; e que na vida acha seu refúgio frágil e evidente nas bebibas e nas relações casuais efêmeras com mulheres - em casos, mantém relações simultâneas. Até que quase no segundo ato do filme, ambas as história se encontram, quando Sarah se hospeda na casa de Robert - são irmãos - e na medida que vão convivendo, tentam acertar suas vidas.

Ao que é dito - já que eu não tenho conhecimento da filmografia de Cassavetes -, Amantes abdica muito em sua maneira tradicional de rodar filmes - conhecido pelo uso da câmera em punho, causando um obvio efeito trêmulo nos planos -, aqui ele abusa de jump cuts - dando aquele ritmo frenético nas tomadas, que consiste em cortes abruptos de uma só ação (que por vezes é só erro na montagem) - e impondo uma estética mais ágil ao seu filme. Ainda que mesmo assim, o filme não se torna menos intimista e realista.

Nada em especial é anunciado até que o filme termine. A obrigação é mesmo acompanhar os 141 minutos - que foram editados para 122 pela distribuidora (ainda que pela internet possa-se achar a versão com a edição inteira e original) - e acompanhar a jornada dos personagens. Enquanto parecem se encontrarar, o filme é evasivo e traz das soluções mais transtornos, da bonância surgem apenas mais caminhos tortuosos . Por exemplo quando Robert começa a se relacionar com seu filho pequeno - em uma trama muito pouco racional ao que diz respeito à sua elaboração -, ou quando Sarah decide viajar. E a transmissão, mesmo após uma subtrama após a outra parece indicar que não há escapes; e mesmo quando os problemas são encarados de frente, nem sempre irão se resolver.

Assim como seus personagens, Cassavetes nem sempre é especialmente coeso ou abusa da lógica. É um filme narrado e transmitido, em suma, saturado por idiossincrasias - vale-se destacar que quase despidos de gestos afetivos ou grandes momentos de amor individualmente. E nesse passo, que Amantes faz de si mesmo tão nu ao que temos do seu caráter, e isso logo - como consequencia feliz - perspassa sua relação com a própria platéia que de testemunhas por trás da tela adentram tão profundamente a estória - algo muito parecido com os filmes de Iñárritu, que propõem uma intimidade tão mais complexa que o normal.

Mesmo sendo um filme tão sincero - e tão mais emotivo do que cabeça -, poucas são as pessoas que iriam se agradar com ele. Nem mesmo como a premissa parece indicar - ou possa-se imaginar -, Amantes não guarda consigo grandes debates verbais, tudo é a base das atitudes e comoções. Nada é mastigado o suficiente - inclusive o final -, para serem conceituados como uma verdade universal ou tomarem tons conclusivos. O seu estilo é decidido e pouco complacente, mas que se dane, afinal, quantos filmes são tão sensiveis como este?

Nota 6,0














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