domingo, 29 de abril de 2012

Weekend à Francesa (1967) - Jean-Luc Godard



Não coincidentemente - pelo menos acreditando que Godard seja no minimo um pouco obsoleto -, sempre vemos que o cinema engajado do diretor e todas as suas amarras nascem e se tornam-se diretissimas a sociedade. O contexto e as formas com que seriam feitas não realmente importavam, mas foi assim que alguns de seus filmes mais conhecidos foram idealizados e posteriormente feitos. No seu olhar de tragédia em O Demonio Das Onze Horas (Pierrot le Fou, 1965), nas intenções intrinsecas de Alphaville (idem, 1965) por exemplo, todas geniais à sua forma; não seria nenhum absurdo afirmar - obviamente considerando que pra cada filme tem seus gosto -, todos esses filmes que ele fez acerca destes assuntos politicos e sociais são no minimo ótimos. E mesmo achando bobeira - e as vezes estupidez -, argumentar através de comparações, é só equipara-los ao cinema de massa feito hoje em dia. Na textura, na riqueza e na relevancia dos assuntos que ele gostava de abordar. E não só na intenção, mas também, é claro, por serem filmes muito bem realizados e autorais até o osso.

Mesmo abrindo todo um leque de interpretações e analises, Weekend à Francesa fala apenas sobre um casal - um tanto idiossincratico pra variar -, partindo em uma viagem até a casa dos pais da moça quando no caminho, conforme anuncia a antológica cena do transito na rodovia, o universo - talvez o mais inesquecivel criado pelo diretor -, é surreal e caótico. E a genialidade nasce aí, no atestado que o estado bizarro do ambiente ser nada mais do que consequencia da ação das pessoas que lá habitam. Sintomas da sociedade classes. Mas não é fácil assim, Godard como sempre não é uma metralhadora inconsciente, ele debate e busca reação, quando não se contem em ir discutir sobre a origem das condições atuais, e das origens - por mais longinquas que sejam -, do status quo.

Diante de tantas experimentações - embora qualquer dadaísmo só pode ser pressuposto -, é essencial que para o filme funcionar, seja colocada em pauta uma discussão sobre as condições institucionadas, para que então seja entendida as caracteristicas da ambientação atual. Diferentemente de seus filmes mais liricos - nos quais os focos são sobre os personagens -, este aqui é um filme muito mais experimental e diegético - quase um Buñuel. É um filme onde discursos e falas tomam lugar. Não tanto sobre os personagens, seus sentimentos e afins -  justamente o expoente máximo do diretor (O Demonio das Onze Horas) foi o misto perfeito entre ambos os elementos.

O personagem do filme é o mundo de Godard. É a ele que se cabem as analizes e luzes. É um universo de absurdos e completo caos - que não chega a realmente ser uma denotação de surrealidade, já que não apresenta cacoetes fantasiosos. Embora seja indigesto e completamente utopico, é uma representação que se baseia em um mundo de possibilidades, e no qual felizmente o Cinema dá espaço. Embora esta obra em especial seja produto de outros objetivos de Godard, ele não chega a se distanciar de suas outras obras em qualidade ou identidade. É um filme ousado, inovador e dentro de sua proposta, realmente perfeito. Afinal, ao que parece, seus filmes são sempre sobre as inequadações e aos anacrônicos, não? O que não o faz um filme "menos Godard".

Realmente, não é aqui que você encontra aqueles aspectos bem costumeiros do diretor que se tornaram bem conhecidos na raiz de sua filmografia, vide os jump cuts nas trilhas sonoras, ou os cenários brilhantes e exagerados, o eterno uso das canções, as desconstruções cronologicas e lineares - talvez o que mais remonte a isso seja mesmo os interludios visuais, que se valem como um prenuncio as proximas sequencias e convenhamos, que dão aquele charme, aquele perfume semi-tangível que permeia seus filmes.

Seria perfeitamente racional afirmar que Weekend à Francesa é um dos apices dentre as desbravações do Cinema. Mas toda essa estridencia generalizada talvez não valeria nada - ou valeria? -, se o filme não guardasse consigo uma mensagem final, e independente ou não se o faria, os resquicios palpaveis que ficam indicam mais que tudo o regresso do homem ao primitivo, do retorno ao zero da sociedade dos padrões e do consumo (por mais clichê que seja dizer isso) - esses são os mesmo que tornam a se alimentarem de si mesmo, à viver na mata, ao sexo apenas pelo ato, à violencia e o caos gerado pela irracionalidade. A mentira de Godard em 24 quadros por segundo.

Nota 9,0


















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