quinta-feira, 26 de abril de 2012

Hatari (1962) - Howard Hawks



Nos primeiros quadros de Hatari (idem, 1962), Howard Hawks já está a enquadrar lindos planos da Tanzânia - mais precisamente no leste africano -, são verdadeiras proteções de tela, colirio para os olhos; tudo fotografado pelas panorâmicas angulares de Hawks, ao passo que estamos no deleite dos planos visuais, vemos John Wayne na caçamba de uma caminhonete com alguns companheiros e uma moça, o genuíno cowboy americano, amado e idolatrado - aqui não menos machão -, está de boné, lenço na cabeça e colete caçando um rinoceronte em zig-zag o tentando enlaçar com uma corda pelo pescoço, conforme o faz, solta pérolas como "deve ser fêmea, não sabe para que lado vai"; apesar da surpresa e do entretenimento desse prenúncio, o que assusta mesmo viria depois com o atestado, é a habilidade incompáravel de Hawks de entreter com tanta facilidade, e isso é só o começo.

Até mais importante do que exaltar as qualidades individuais de Hatari - e o Cinema de Hawks em geral -, é ressaltar o quão importante sua existencia segue para o cinema hoje - em todos os genêros; e nem mesmo seria exagero afirmar que dentre tantos realizadores da época, Hawks segue como o mais influente para essa arte contemporânea; é evidente e quase tangível a forma como seus filmes travam dialogo direto com os de hoje, na dinamicidade das cenas, na acidez e inteligencia dos dialogos, no timming ágil e preciso tanto cômico e dramático, na naturalidade da composição das cenas e na evolução do cinema para o mais orgânico. E é claro, na sua solidez simplista na condução narrativa.

São 157 minutos de duração que passam voando - muito sinceramente falando -, não faltam momentos hilariantes, sequencias de ação impecáveis e dialogos sensacionais (afinal, mais do que tudo, Hatari é uma comédia/aventura). O ponto de partida é bem simples na verdade; é uma história sobre um grupo de caçadores na Africa, liderados por Sean Mercer (John Wayne), em uma empreitada na qual devem passar 3 meses no local para capturar certos animais para um zoologico em Los Angeles. Nesse paralelo, é contratada uma fotografa chamada Dallas (Elsa Martinelli, bom... sem comentários), e sua função nada mais é do que fotagrafar as capturas; mas a situação se complica mais do que o esperado quando ocorre uma abrupta aproximação - natural e involuntária -, da moça com os machões e com Sean, é claro.

É redundante, mas é simplesmente necessário comentar o quão impressionante é a capacidade do diretor em extrair o maximo de cada situação - algumas sensacionais -, de momentos aparentemente simples; habilidade essa que já dava ares em quase todos os seus filmes anteriores, quanto à comédia, mais notávelmente no seu clássico Jejum De Amor (His Girl Friday, 1940). Sua capacidade de surpreender, emocionar, fazer rir e mais que tudo entreter. Tudo á base do que há de mais puro no Cinema, seja até o que cinema mudo fazia. A mais crua intenção de divertir com bons personagens e situações. Quantas... quantas cenas inesquecíveis.  Não tem como não lembrar de Pockets (Red Buttons, vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante por Sayonara (idem, 1957), o ator brinca de atuar, e se encaixa como uma luva no papel. É um brincalhão, mulherengo, medroso e amigo rapaz, que é o principal alivio cômico do filme, e um dos mais encantadores personagens de todo o Cinema.

A verdade é que Hatari é um filme de machões, predominantemente masculino. Faz cena sobre tudo o que há acerca de bebibas, mulheres e violencia. E é neste ponto a personagem Dallas "Mom Elephant" atua, ela chega para desequilibrar essa condição - delicada, doce, linda, cheia de atitude e sensualissíma; em suma, ela derrete o coração do protagonista. Mas não é apenas nesse ponto que ela marca presença, ela fácil se adapta ao grupo de rapazes, e rapidamente surgem amizades - amizades essas muito bem trabalhadas no filme. É um filme sobre as relações entre os personagens na aventura.

É simples assim, mas o Cinema de Howard Hawks funciona mesmo pela emoção, seus filmes não são de mecanismos e engrenagens, complicações ou esquematizações, ele era apaixonado por eles, os narrava com pulso firme, mas com leveza e paciencia, como deve ser, no limite do passional. Esse conceito perspassa a tela para se conectar com o espectador, essa formula segue influente e talvez a maior prova disso seja o próprio Tarantino, influenciado diretamente pelo seu cinema tanto estéticamente quanto nas caracteristicas diegéticas - que apesar da pedância, breves egotrips e exuberancia enciclopédica de seu conhecimento, faz filmes porque gosta, é auto-indulgente e ousado. Não há nada mais simplista do que Hawks faz aqui - muito virtuosamente -, é apresentar um conto, uma aventura, e por fim, contar uma estória. Nos envolver nessa mentira, e ninguém parece fazer isso como ele.

Na verdade, o filme todo valeria a pena só por Elsa Martinelli vestida com aquela camisa social e gravata - apenas; mas ainda temos muito mais que isso. Afinal trata-se de um daqueles filmes que são a grande fuga, o grande escape. É a ficção composta por um dos grandes diretores de sua geração - mesmo em um periodo posterior ao seu ápice -,  e talvez seja o seu ultimo grande filme (que é muito melhor do que de muitos outros por aí em qualquer época). Passaram-se 50 anos desde Hatari, mas o tempo só o embelezou. Hatari segue completamente irresistivel.

Nota 9,0
























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