domingo, 15 de abril de 2012

Operação França (1971) - William Friedkin



Em certas épocas - felizmente - chegam aqueles filmes que deliberadamente ou não chegam para mudar, inovar e reler o que tem sido feito até então em seus respectivos genêros ou até mesmo no Cinema em geral. Operação França (The French Connection, 1971) é um deles. É um filme marginal, sua linguagem e estética são torpes, que não se adequavam no periodo de seu lançamento; e é interessante que a produção segue bem vital nos dias de hoje - pasme (tendo até mesmo ganho 5 prêmios da academia na época, incluindo Melhor Filme) -, e é um dos poucos filmes que mesmo tendo ousado tanto em sua época, nada, nem mesmo a censura o impediu de brilhar nesses tempos e até os dias de hoje.

A produção se trata da estória de dois detetives de Nova York: Jimmy 'Popeye' Doyle por Gene Hackman (que já havia estrelado o célebre Bonnie & Clide - Uma Rajada de Balas (Bonnie and Clyde, 1967) e Buddy Russo (Roy Scheider) que juntos, lutam para abrir um caso e investigar uma rede de tráfego de entorpecentes e descobrem a Operação França. Enquanto por causa de casos passados e a reputação de Doyle por causa de investigações furadas e sua intuição falha, seu departamente tem dificuldade em acreditar e colaborar com ele. E nesse paralelo que segue o filme.

É interessante observar que no mesmo ano que Hackman e seu personagem cafajeste vieram as telas, Don Siegel também deu vida à um detetive igualmente grosseirão e icônico incorporado por Clint Eastwood, o policial Harry Callahan de O Perseguidor Implacável (Dirty Harry, 1971). Mas mesmo assim, hoje em dia - embora ambos os filmes tenham seus admiradores -, percebe-se que a superioridade de Operação França manteve o filme muito mais cultuado e influente para o Cinema hoje em dia. Mesmo que o personagem de Eastwood tenha gerado tantas sequencias.

Talvez o realismo de Operação França se deva ao fato que o roteiro de Ernest Tidyman é baseado em um romance de Robin Moore, que é baseado em fatos reais. Inclusive, deve-se destacar que os policiais nos quais se inspiram os personagens do filme de Friedkin fazem uma breve ponta no filme como supervisores da policia - seus nomes reais são Eddie Egan e Sonny Grosso. E se isso for verdade - quanto ao motivo da representação crua do tema ao roteiro adaptado -, devemos ficar boquiabertos com a precisão que tudo é representado. A fotografia é composta por cenários sujos de Nova York - dentro e fora de locação -, temos boates imundas, ruas cheias de lixo, que coincidentemente ou não complementaram o clima frio e molhado da cidade. Algo que o próprio Friedkin veio a extrapolar de vez com o seu Parceiros da Noite (Cruising, 1980) com Al Pacino, que parece revelar sua fascinação com a vida no submundo.

Melhor ainda, é que em toda composição de planos, é evidente que Friedkin não busca esconder toda a poluição natural das locações, e parece compreender que isso, só faz o espectador mais chocado quanto a realidade imposta, e torna o filme muito mais envolvente. Toda a ambientação faz da platéia ainda mais familiarizada com a propria história narrada - com poucos adornos -, e essa formula segue forte hoje em dia. Indiretamente ou não, temos tudo isso no próprio cinema nacional com Cidade De Deus (idem, 2002) por exemplo.

E o realismo não é só grato ao mise-en-scene espetacular da cenografia, e também nas maravilhosas cenas de ação e a montagem perfeita da obra - que justificam facilmente os respectivos premios de Melhor Direção e Montagem. Poucos filmes - inclusive da época -, fizeram sequencias tão perfeitas de perseguição de carros como fez este aqui. O desenvolvimento dessas sequencias são icônicas e inovadoras - e um deleite para os olhos. São cortes ritmos e de simples composição, como a camêra colocada na ponta dianteira do carro - nos trazendo uma prisma praticamente em primeira pessoa dos desvios e raspões entre automoveis em alta velocidade, nos trazendo logo em seguida as reações de Hackman no volante e também planos estáticos e breves pra nos dar noção da colocação e não nos perdemos em meio ao que está acontecendo, e até mesmo, pra quem não sabe, grande parte dos acidentes do filme - não por acaso -, foram reais, e incluidos no processo de montagem. Muitos filmes atuais seguem essa construção de cena, dentre os mais sérios, vemos isto na trilogia Bourne com muita frequencia.

Mais uma inovação vem com a caracterização de Doyle - em um trabalho espetacular de Gene Hackman, que foi levado ao estrelato com o filme -, um policial mulherengo, preguiçoso e obstinado. Nós amamos ele, enquanto ele é um homem da lei que se envolve com strippers, vive jogando lixo nas ruas e é um beberrão nato. Mas vemos que sua indole está no lugar, afinal quando tudo parece perdido, sua utopia da busca dos bandidos segue em frente independente dos empecilhos.

E não é só isso, Operação França além de tudo, jamais subestima o espectador. Os espectadores mais passiveis facilmente se perderão no filme, perderão a noção de quem é quem e até mesmo o que está acontecendo. Pois á partir de quando os conflitos se revelam, o roteiro joga com muitos nomes e pistas, e a cada segundo, fatos importantes para a trama estão acontecendo. Então, o filme ata tudo isso à obrigatoriedade do espectador a seguer com atenção o enredo, pois haverão sempre momentos ala "devemos ir atrás de tal", "temos que achar tais evidencias" e tudo isso permanece do começo até o fim.

Sem dúvida alguma, Operação França entra fácil no cesto dos melhores policiais de todos os tempos. Pena que muitos filmes policiais de hoje se unem ao campo de soluções fáceis e a zona de conforto. De qualquer forma, Friedkin e sua fortaleza Operação França sempre nos lembrarão do contrário.




















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