domingo, 1 de abril de 2012

Videodrome (1983) - David Cronenberg




"A tela da TV é a retina dos olhos da mente"

15 anos antes de Peter Weir (Sociedade Dos Poetas Mortos) discutir a midia com seu formato Sessão Da Tarde com O Show de Truman (1998) - filme esse que até gosto -, o senhor David Cronenberg já havia realizado uma das mais lúgubres e oniricas experiencias do Cinema, talvez a maior acerca do tema em pauta. Enquanto Weir se vale de uma visão mais romantizada, light, contida e rasa - ao extremo, desde a fotografia até a abordagem -, Cronenberg não se contem em extravazar e explicitar o que tem a dizer - e mais do que isso, como cineasta, aqui ele expira suas propriedades artisticas -, e parte para um grande delirio narrativo, totalmente caótico e ritmico - cheio de metaforas e significados -, que além de incitar discussão sobre a temática em si, é um grande e fantastico retrato da psique humano diante do poder não só da midia e da televisão, mas sim da imagem, e o que advém da sua projeção - efeito e consequencia.

A TV é tediosa e superficial, e para Max Renn (James Woods) o que realmente importa é expor o que é real, e essa parece ser a chance dele. Ele é um produtor de uma pequena emissora de tv - a tão citada Civic TV -, emissora essa que utiliza de uma rede de sinal pirata por satélite para transmitir programas de canais estrangeiros, até que por acidente (?), ele capta o sinal de uma transmissão denominada por "Videodrome" contendo fortes imagens de tortura e assassinato. Logo, Max passa a se obstinar ao objetivo de por o Videodrome ao ar; logicamente os empecilhos não são poucos.

Assim como Laranja Mecanica (1971) - filme esse bem interxtualizado por aqui - é tão poderoso e aterrador quanto o próprio Tratamento Ludovico, aqui não é diferente com o filme de Cronenberg e o Videodrome. Cronenberg faz um filme totalmente carnal que implica na transposição da transmissão da vida confeitada pela televisão, pois aqui ele insiste na afetação da televisão explicitando a realidade na vida das pessoas - também dirigindo indiretas quanto a hipocrisia da midia em geral. O Videodrome não tem enredo, tampouco ensaio, mas de alguma forma é o que as pessoas querem ver. A pervesão não enoja, mas excita, o sangue derramado é cola para os olhos. E Cronenberg nos joga tripas e orgão expostos, não é o que se deseja ver - mais parecendo o filme as vezes uma aula de anatomia -, e também não é de se admirar que Videodrome não é um filme muito presente nas telinhas da nossa televisão.

O que é de se admirar é como Cronenberg reproduz com perfeição o conceito de onirismo no Cinema. De frame em frame ele filma com maestria o estado psicologico de Renn - a condição de alucinação entre realidade e sonho -, e é de ficar boquiaberto concluir que em nenhum momento o diretor perde o fio da meada. O real e surreal não é só perfumaria por aqui, mas sim necessário para o entendimento do que se trata Videodrome. Não só rico nesse artifico, também é saturado de metaforas - como a conotação sexual presente na personagem Nicki (Deborah Harry), mas essa conotação não é mero acaso - assim como quase nada no filme -, mas sim é mais uma peça do quebra cabeça criado por Cronenberg.

São apenas 87 minutos de filme, e isso basta. Pois apenas durante essa duração, Videodrome mais do que fala sobre a midia - pobre de quem ir atrás do filme pela premissa -, fala sobre os porões psicologicos do ser humano. O que importa é penetrar os desejos e anseios, para todos os efeitos, a verdade.


























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